sábado, 31 de outubro de 2020

O Incrível e Desconhecido "Crocodilo-Tatu"

 Um estranho híbrido de crocodilo e tatu, uma descoberta sem paralelo dentro da paleontologia. Esse é o Armadillosuchus arrudai. Leia abaixo para saber mais!!!


Primeiramente, vamos saber um pouco sobre a  descoberta dos fósseis desse incrível vertebrado.

Em 2005, na zona rural do município de General Salgado (SP), o professor de biologia Tadeu Arruda encontrou o fóssil desse intrigante animal a partir do relato de um aluno. Posteriormente o professor contatou a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde a caracterização científica foi feita pelos paleontólogos Ismar de Souza Carvalho e Thiago Marinho. 

Mas o que torna a descoberta do Armadillosuchus arrudai um evento extremamente importante???

O crocodilo-tatu compreende características que o diferenciam de todos os crocodilos já descritos. Dentre essas, a mais marcante é a presença de placas ósseas, arranjadas como armadura pelo pescoço e dorso do animal. A semelhança dessas placas ósseas que compreendem a armadura, com os osteodermas das carapaças de tatus, foi a inspiração para o nome dado ao animal. Armadillosuchus remete a armadura que reveste o crocodilomorfo, e finalmente, arrudai é uma homenagem ao professor Tadeu Arruda que encontrou o fóssil.


Imagem comparativa entre o crocodilo-tatu e um tatu atual.

Além da armadura de placas ósseas, Armadillosuchus arrudai também apresenta uma dentição totalmente diferenciada, quando comparado com outros crocodilos. Apresenta dentes ásperos, adaptados a mastigação, sendo muito semelhante com a dentição dos mamíferos. Sua dentição sugere um animal onívoro, se alimentando de moluscos, vegetais e alguns animais maiores.

O crocodilo-tatu também apresenta um crânio largo, focinho curto e estreito e garras fortes, adaptadas para escavação. 

Este incrível fóssil revela a imensa capacidade de adaptação dos crocodilos em relação as condições inóspitas do Cretáceo. 

Segundo Ismar de Souza Carvalho, a extinção do crocodilo-tatu pode estar relacionado a mudanças climáticas, tornando-se chuvoso e úmido, diferente do clima semi-árido habitual do Cretáceo do interior do Brasil.

Bom, espero que tenham apreciado essa postagem, assim como as peculiaridades de Armadillosuchus arrudai !!!!



Referências:

MARINHO, THIAGO S.; CARVALHO, ISMAR S. (2009). "An armadillo-like     sphagesaurid     crocodyliform from the Late Cretaceous of Brazil". Journal of South     American Earth     Sciences27 (1): 36–41.

http://www.faperj.br/?id=1503.2.0

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Jacaré e Crocodilo. Qual é qual???

 Esses dois répteis gigantes intrigam muita gente. Afinal, o que os diferencia? São a mesma coisa? Sacie sua curiosidade logo abaixo!!!


Primeiramente é importante introduzir algumas informações básicas. Ambos são membros da classe Reptilia (répteis). Os répteis evoluíram a partir dos anfíbios labirintodontes (animais de grande porte, onde a formação dos dentes se mostrava em um formato labiríntico), cerca de 60 milhões de anos depois do aparecimento dos anfíbios.


Os répteis são recobertos de escamas córneas. A maioria das espécies é carnívora e ovípara (desenvolvimento embrionário feito dentro de um ovo). Atualmente os répteis constituem uma porção essencial das faunas das regiões tropicais e temperadas.

Mas vamos ao que interessa, o que diferencia jacarés de crocodilos?

Sistemática: A classificação dos répteis é um assunto muito controverso. O arranjo dos grupos pode variar de acordo com a bibliografia. Não vamos nos ater nessa complexa discussão, focando assim nosso empenho nos indivíduos-alvo. 

Tanto jacarés como crocodilos são representantes da ordem Crocodylia. A diferenciação ocorre a nível de família. Jacarés pertencem a família Alligatoridae, enquanto os crocodilos fazem parte da família Crocodylidae. Geralmente é usado, inapropriadamente, o termo "crocodilo" para se referir a todos os membros da ordem Crocodylia, todavia os verdadeiros crocodilos são os representantes da família Crocodylidae.

Morfologia: Vamos agora focar nas diferenças perceptíveis em uma análise do corpo desses répteis.

-Mandíbula: O formato da mandíbula é um fator chave e decisivo, facilitando muito a diferenciação de jacarés e crocodilos.
A mandíbula nos jacarés apresenta um formato de "U" com um aspecto bem arredondado, enquanto nos crocodilos se assemelha a um "V", com um focinho estreito e afilado (veja na imagem abaixo).

 Diferentes tipos de mandíbula (fonte na imagem).

-Dentição: Talvez o aspecto mais importante e esclarecedor na separação desses animais. Os crocodilos em geral apresentam o quarto dente do maxilar inferior hipertrofiado e encaixado na cavidade lateral na parte externa da boca. O dente permanece exposto mesmo com o animal de boca fechada, enquanto que nos jacarés ele fica resguardado internamente na boca. Ademais, os crocodilos apresentam os dentes superiores alinhados com os inferiores, enquanto que os jacarés não apresentam essa característica (imagem abaixo).
Diferenças na dentição, com enfoque no dente hipertrofiado (fonte na imagem).

Apresentamos aqui apenas algumas diferenças. Poderíamos dissertar muito mais sobre esses belíssimos animais, porém foi dado enfoque em características mais marcantes. Espero que tenham gostado <3

Referências:

REED, C. A. (1977). Analysis of Vertebrate Structure. Milton Hildebrand . The Quarterly Review of Biology. 



terça-feira, 30 de junho de 2020

A Mecânica do Voo Animal

Os seres voadores estão entre os mais especializados dentre os vertebrados. O voo como definição própria se refere a ação de voar, ou seja, ao momento que se realiza um deslocamento aéreo.

Este manuscrito tem como objetivo elucidar princípios acerca do voo animal, de uma forma mais abrangente, visando um público mais heterogêneo. Durante a exemplificação desse tema, alguns conceitos físicos serão utilizados, de forma bem introdutória, somente para auxiliar no entendimento do assunto. Dito isso, espero que a leitura se dê de modo elucidativo, chegando a todos que querem aprender e se interessam sobre o assunto.

A mecânica do voo garante eficiência e praticidade na mobilidade dos animais que a usufruem,os auxiliando de diversas formas incluindo as seguintes:
-Maior efetividade na procura de alimento e abrigo;
-Grande possibilidade de fuga, em relação a predadores que não voam;
-Cenário migratório, onde os animais voadores podem deslocar-se de acordo com a estação do ano, para regiões onde o clima e outros fatores sejam favoráveis.

Considerando os princípios mecânicos envolvidos, podemos dividir os animais voadores em três categorias: (os que efetuam o pára-quedismo, os que planam e os que efetuam o voo propulsionado ou propriamente dito.

Entre todas as classes de vertebrados, pode-se encontrar alguns indivíduos com capacidade de realizar o pára-quedismo ou o voo planado. Quanto ao voo propriamente dito, só três grupos entre os cordados e os artrópodes conseguem mantê-lo: pássaros, insetos e os morcegos. Evidências indicam que os pterossauros, já extintos, também eram capazes de voar.

Pára-quedismo:


Todos os indivíduos pára-quedistas são arborícolas (animais cuja vida se dá principalmente nas árvores). Esses animais se lançam a partir de um salto, estendem os membros para os lados, controlando sua orientação. Quando esses animais descem, utilizando os seus pára-quedas, sobre eles age uma única força aerodinâmica paralela com a direção do ar que passa por ele. O animal atingirá uma velocidade constante quando a força aerodinâmica total sobre ele contrabalançar seu peso.

Dentre as espécies pára-quedistas, podemos citar o sapo voador de Bornéu (Rhacophorus dulitensis) onde seu pára-quedas é formado pelas palmas abertas ; um gênero de serpentes arborícolas que emprega o pára-quedismo controlado em ângulos fechados; alguns lagartos que podem descer em ângulos de aproximadamente 70°; vários gêneros de lagartixa (família Gekkonidae) que apresentam membranas entre os dedos e franjas na cabeça e no corpo e finalmente os famosos esquilos arborícolas pequenos, que utilizam o pára-quedismo para amortecer uma queda, esticando as pernas e a cauda.

Planeio:
Serão considerados nesse tópico animais que usufruem somente do planeio para se locomover, ignorando por exemplo, diversas espécies de aves, que conseguem percorrer certas distâncias aproveitando-se somente dos movimentos do ar e planando, porém também realizam o voo propriamente dito.

Um animal planador se desloca no ar em sentido descendente, sem a realização de trabalho. Diversos peixes, alguns gêneros de lagartos e indivíduos de três ordens de mamíferos são planadores. O lagarto voador (Draco volans), possui asas planadoras, constituídas por pele dobrada sustentada por elongações das costelas, que podem ser dobradas, deixando as patas livres para a movimentação normal.

A asa planadora dos mamíferos é basicamente uma pele, denominada patágio, que se alonga das patas dianteiras até as traseiras. Os roedores (incluindo os esquilos da família Sciuridae) e os marsupiais voadores (família Phalangeridae) possuem patágio. A terceira ordem de mamíferos planadora, apresenta os "lêmures voadores" (ordem Dermoptera), que planam utilizando um outro tipo de asa. Essas asas planadoras incluem os dedos e se estendem até o queixo e a cauda.

Os "peixes voadores" (família Exocotidae) possuem barbatanas expansíveis e, graças a isso, conseguem planar por uma certa distância após saltarem da água.


Voo Propriamente Dito ou Propulsionado:
   

A maioria dos animais que voam efetuam o denominado voo propriamente dito ou propulsionado. Nesse caso, há realização de trabalho a fim de se manter no ar. O voo propriamente dito apresenta diferentes mecânicas, cabendo uma  outra publicação futuramente para tratar desses assuntos.

Os pterossauros apresentavam longos asas estreitas sustentadas pelo braço e pelo quarto dedo de cada mão (o mais longo). Há indícios de que alguns pterossauros pudessem até mesmo nadar ligeiramente com suas asas. Outras evidências indicam que eles pudessem elevar a temperatura corpórea durante o voo.



Os morcegos são animais voadores bem sucedidos. Entre os diversos morcegos da ordem Chiroptera, há adaptações para se alimentar de insetos, frutos, flores, néctar e pólen, sangue e peixes. Essas adaptações só são possíveis devido a capacidade de voo desses mamíferos. As membranas de voo são mantidas pelos braços pelos dedos 3, 4 e 5, pelas patas posteriores e geralmente pela cauda.

As aves são os mais hábeis vertebrados voadores. As penas de voo são sustentadas pelos longos braços e por dígito robusto; as que se inserem na mão são as penas primárias e as do antebraço as penas secundárias.

Quando um pássaro bate as asas, a parte mais interna e rígida delas se move para cima e para baixo, enquanto a parte mais externa e mais móvel, formada pelas penas primárias, muda sua forma e posição, de modo que o fluxo contínuo de ar é empurrado através da área, varrida pelas asas.

Referências:

OKUNO, E. ET AL. (1982). Física para Ciências Biológicas e Biomédicas. São Paulo: Harbra.

REED, C. A. (1977). Analysis of Vertebrate Structure. Milton Hildebrand . The Quarterly Review of Biology. 

sexta-feira, 29 de maio de 2020

Homologia e Analogia: Princípios Básicos da Zoologia

A zoologia em sua totalidade, é o ramo e especialidade da Biologia que estuda a vida animal. Em sua estrutura, a zoologia se subdivide em ramificações, com enfoque em diferentes grupos animais e suas especificidades.

No estudo desses diferentes grupos, alguns conceitos são utilizados, buscando uma análise mais aprofundada sobre esses organismos. Este manuscrito tem como objetivo ilustrar e exemplificar esses conceitos, visando um público mais abrangente.

Em uma análise inicial, dois termos apresentam uma relevância significativa no âmbito científico: a Anatomia e a Morfologia

A Anatomia é a ciência da estrutura. Os anatomistas estudam e descrevem os componentes  e a organização estrutural dos organismos. A Morfologia é mais abrangente. Os morfologistas não se limitam apenas no interesse anatômicos, mas também procuram elucidar os padrões estruturais do indivíduo.

Tendo assim estabelecido definições acerca dos estudos das estruturas, é necessário elucidar conceitos pautados nos caracteres, que auxiliam na classificação e comparação dos organismos.

Homologia e Analogia: Caracteres de dois ou mais organismos são homólogos se compartilham uma ancestralidade comum. Para definir se dois ou mais caracteres são homólogos, é necessário que os mesmos tenham uma nítida ligação temporal. Essa ligação quando presente é registrada no registro fossilífero, exemplificando a importância do estudo paleontológico.
Caracteres de dois ou mais ou mais organismos são análogos se compartilham  uma função comum. A analogia é determinada somente pela análise comportamental e biomecânica dos indivíduos. Caracteres análogos podem ser homólogos ou não.


Um terceiro conceito, mais independente que os anteriores também é utilizado em análises comparativas e de estudo classificatório. Trata-se da homologia seriada.
As estruturas são serialmente homólogas se ocupam diferentes posições espaciais em uma série de estruturas semelhantes. Por exemplo, cada vértebra é serialmente homóloga as outras, como são os diferentes dentes de uma fileira dentígera. É comum que as estruturas dessas séries formem gradientes: as vértebras tornam-se maiores a pelve.

E por fim, temos mais um tipo de homologia, a homologia sexual. Ocorre entre estruturas que se desenvolvem a partir de primórdios embrionários equivalentes, porém sexualmente diferentes. O ovário é o homólogo sexual do testículo.

Os conceitos apresentados acima são de extrema importância para estudos científicos na área da zoologia, e sendo assim, sua divulgação para um público mais heterogêneo se torna relevante. 

Referências:

REED, C. A. (1977). Analysis of Vertebrate Structure. Milton Hildebrand . The Quarterly Review of Biology.